Saturday, October 22, 2011

Estimando o cão!

É um belo e estranho planeta esse em que vivemos. Nunca pensei em ver gente ir para a cadeia, por conta de maltratar bicho. Isso é bom, pois afinal há muita gente a andar em 4 membros, e a arrastar-se por esse mundo. Sempre haverá pessoas que entendem ser errado tratar animais com o mesmo respeito dirigido a um ser humano. É assunto complexo, decidir se os bilhões gastos com ração, deveriam ser destinados aos famélicos da Somália. Rasamente direi: Há muito dinheiro gasto de maneira irresponsavel. Se formos falar em alocação de recursos, creio que os destinados aos animais não devem ser os primeiros a ser tocados... Bem antes na fila, estão as rubricas destinadas aos corruptos... Mas, voltemos aos animais.
Quando garoto, criei alguns bichos de estimação. Admito não lembrar se eu realmente os estimava. Sei que eram engraçados. Foram coelhos, cães, gatos, pássaros e, aves de briga. Sim; de briga mas, isso é uma outra história. Depois que comecei a participar da Confraria AA - Adultos Azedos - passei a ter ojeriza por animais domésticos, em geral. Não, não sou torturador de bichos, dissecador ou taxidermista. É que não gosto de animal que mora dentro de casa e, pula em mim, lambe, cheira com focinho gelado... Creio poder explicar melhor; de antemão agradecendo a paciência por parte do caridoso que está a ler.  É como segue: As casas antigas, tinham espaço para bichos e gentes, nessa ordem. Acomodavam desde legiões de pulgas em velhos soalhos (alguns, foram pioneiros da modalidade "soalhos flutuantes", tanta era a infestação...), passando por Ratos de Porões em forros de madeira, até gatos e cães em varandas e quintais. E, ai está o bem que tinham as velhas casas: varandas e, principalmente, quintais. Eram nestes que as crianças tinham seus bichinhos, fossem êles de estimação ou de "judiação".Esta última palavra, utilizo com cirúrgico cuidado, não ensejando a mesma, nada mais que, a intenção de reproduzir a coloquialidade de uma era que esta a se extinguir... Lá, havia a "casinha do cachorro", o galinheiro, a "casinha do coelho-da-índia", a "casinha da lebre" a qual, genericamente, classificávamos como "coelho". Se algum bicho entrasse dentro de casa, era sumariamente expulso para o quintal com compreensível exceção feita as pulgas, sempre teimosas. Havia certa tolerância para com gatos junto ao fogão. Eram tempos difíceis e, muitas vezes, estes bravos felinos voluntariavam ser parte do cardápio. As gaiolas ficavam na varanda e, era um ritual infalível, ao anoitecer, removê-las para dentro de algum lugar fechado, cobri-las e, pela manhã levá-las de volta e pendurá-las na parede de velho reboque, que se esfarelava diante de um, simples, mal-humorado olhar... Por falar em olhar, era muito comum atar fitinha vermelha as gaiolas para evitar "quebranto", "mau-olhar", "inveja", e outros sortilégios que, se verdadeiros, fariam grande estrago em Brasília, trazendo enorme benefício ao povo. Mas, já que estamos a falar de animais; "...praga de urubú magro, não pega em cavalo gordo", perdendo a verdade o velho adágio, caso inverta-se a ordem dos animais nele invocados, de sorte que Brasília continuará impune, enquanto que o nanico cidadão está solto aos urubús. Muitos de meus amigos de infância, tinham outros animais em casa, tais como equinos, suínos, e aves maiores; patos, perus e assemelhados. Com o passar dos anos, eu crescí e, os quintais diminuíram; desapareceram. Foi assim que extinguiram-se muitos animais domésticos; extinção essa que nunca foi objeto de protesto de nenhuma entidade civil, religiosa ou, mesmo, militar, tratando-se do Brasil, um pais tão marcial. Humilde e obscuramente, esse blog, em primeira mão, denuncia o desaparecimento do coelhinho-da-índia de quintal, do galo-caipira de quintal, do coelho-de-quintal e, da pulga-de-soalho... Tenho testemunhas: desde minha adolescência, passei a libertar de gaiolas, todo passarinho que eu encontrasse preso. Soltei muita avezinha, cujo desaparecimento, até hoje é classificado como "inexplicável" pelo frustrado dono, que jura ter colocado a gaiola com a porta virada contra a parede. Meu maior feito foi, em uma chácara de um amigo, soltar toda uma passarada que estava presa nessas gaiolas construídas ao rés do chão... Foram, com certeza, dúzias de pássaros. Nunca comoveu-me o argumento de que, em liberdade, morreriam. A estes respondo: Também, um dia, morreriam presos... A História ensina que Patrick Henry disse "Give me Liberty, or give me death!". Não duvido que Patrick tenha dito isso mas, arrisco que deve ter roubado a frase de um pássaro engaiolado; provavelmente um tucano.
Jamais atingirei o nível de consciência necessário para fundar uma ONG e, defender urso polar, macaco-prego, ministro ladrão ou mico-leão. Entretanto, tenho uma certeza: A degradação da natureza humana é assustadora e não há ONG que possa mudar o rumo  que nos leva a desatinado futuro.  Qualidades inerentes a espécie como compaixão e fraternidade, estão a desaparecer da face da Terra a uma velocidade maior do que a devastação da floresta amazônica, vítima de queimadas e vaqueiros. Não vou lembrar da criança chinesa, atropelada duas vezes, enquanto 18 pessoas passaram por ela e, desviaram sem prestar socorro. Não vou falar de pai que joga filho pela janela de alto edifício. Não vou falar de psicopata que abusa de criança, mata e retalha o pequeno corpo destruído, depois de aterrorizá-lo até a alma. Tudo isso, em diferentes lugares desse Planeta Terra. Então, repito; não é certo desviar recursos destinados a dar existência digna aos animais. Mas, talvez, seja certo desviar nossa atenção para assuntos que estão a ameaçar a nossa própria espécie e, por tabela, todas as outras.

Thursday, October 6, 2011

A Duquesa de Alba e o Plebeu de todos Nós


Getty Images
É verdade que a crise financeira pela qual passa a Europa, não poupou a Espanha. Ao contrário; veio para somar a, já então, longa lista de atribulações espanholas:  alta taxa de desemprego, o fotoshop a copiar Velasquez quase a perfeição, redes de prostituições brasileiras, toureiros chifrados, mercado imobiliário em decadência, moinhos de vento, a Catalunha sempre rebelde, Messi, que fala espanhol mas, nasceu na Argentina e, outra injustiças divinas... E, foi em meio a todo esses desacertos que floresceu o amor outonal entre a Duquesa de Alba e Alfonso Díez Carabantes. Como era de esperar-se, graves suspeitas foram levantadas quanto a genuidade do amor de Carabantes pela Duquesa. Melhor assim; houvesse silencio e, este seria hipócrita. Afinal, Cayetana carrega 85 primaveras em seu currículo. Carabantes, embora não seja um Jesus Luz, tem toda a justa esperança de por aqui permanecer um pouco mais... Esta sólido em seus 60 anos e, exibe firmeza, ao menos nas fotos do matrimônio. Pacificando as línguas ferinas, previamente, a fortuna da noiva foi devidamente inventariada entre os herdeiros. Carabantes, discreto barnabé, nunca se casou e, não tem descendentes. Pá de cal sobre a pouca fé dos maldosos na imunidade do amor aos poderes vis do dinheiro, Afonso renunciou formalmente a qualquer parte no butim da Duquesa. Vindo do seio de modesta e laboriosa família espanhola, conheceu sua consorte na loja de antiguidades da mãe, largos 30 anos atrás. Reencontrou-a quando esta saia e, ele adentrava a uma sala de cinema. Afonso, sempre atrasado... Desde então, a amizade só fez crescer, culminando com a formal união, necessária para atender as convicções católicas de Doña María Del Rosário Cayetana Fitz-James Stuart y Silva. Se por um lado a frugalidade nos nomes dados a Afonso Diez Carabantes é reveladora da opaca vida de um profissional da previdência privada, por outro lado o quilométrico nome da duquesa revela não somente a movimentada vida de quem o carrega mas, também o de seus antepassados. Lá estão a nobreza espanhola, inglesa e francesa a misturar glórias e derrotas, virtudes e vergonhas por séculos passados e por vir...
O que lá vai no coração do plebeu e da nobre senhora, são segredos inescrutáveis que, talvez, nem eles próprios saibam. Pode ser que tudo não passe de uma simples manobra de vaidades e ambições. Pode ser mais uma traquinagem da vida a zombar dessa mania de querermos entender tudo que acontece a nossa volta. De verdade, só quem avançou por anos a fio nesta vida, é capaz de compreender que o novo sempre virá, mesmo dentro de corpos e corações envelhecidos... Vida longa ao casal!

Friday, September 30, 2011

Sapatinhos de cristal...

Fazia tempo que não me sentava para assistir um bom filme. Ontem, em família, assisti Cinderella, a qual, por ser bem criado, passarei a referir pelo seu verdadeiro nome; Ella. Acho uma maldade que vence, deixar que prevaleça o apelido que lhe deram, as maldosas irmãs... Ella prega incansavelmente a importância que tem a atitude de manter-se fiel a seus sonhos e objetivos. É o mantra de sua escrava vida, no que tem toda razão. Ainda que tardiamente, chamou-me a atenção o fato de os sapatinhos de cristal, dados a Ella pela magia da atrapalhada fada madrinha, não terem desaparecido juntamente com o vestido, a carruagem e, todos os outros aparatos de sonho com hora marcada para terminar; meia-noite. Sou uma pessoa simples, de pensamentos simples; gosto sempre de lembrar isto, tanto as pessoas que me dedicam estima, quanto aos meus detratores. Daí, ter ido eu dormir com essa dúvida aguda, a incomodar meu sono... Porque, digam-me lá sábios da Macedônia, da Pérsia ou do Gandois; porque os sapatinhos de cristal dados a Ella, sobreviveram a fatídica passagem da meia-noite? Teria sido uma simples falha dos roteiristas da Disney? Seria o príncipe um podólatra? Não, não pode ser. Nossos contos tão infantis, precisam resistir a essa devastadora onda devassa que, qual a tsunami asiático, tem varrido para fossas abissais nossos antigos e delicados sonhos de cristal...sonhos de noites de Verão, Outono, Primavera, Inverno e outras estações. Ultimamente, os sonhos só tem tido vez nas estações de TV...
Mas, voltemos a Ella e seus pezinhos em cristais... Tenho tendência a acomodar, a procurar solução e, se essa não estiver ao alcance, ao menos equacionar os problemas que a vida, a todos nós, traz. Negociei comigo mesmo, a idéia de que Ella tinha um sonho em sua moça cabecinha; ir ao baile do príncipe. Entretanto, nenhum sonho vai a nenhum lugar, se não tiver pezinhos que o carreguem. Os sapatinhos de cristal seriam a simbólica mensagem de que, todo sonho é concretizado na dura realidade do chão desta velha Terra. Por isso, só eles sobrevivem ao final do sonho; ao sinistro badalar da meia-noite de nossas vidas. Entretanto, é essencial lembrar que tudo começa com um sonho. Sonhe, sempre. A cabeça nas nuvens, mantendo os pés no chão, pois é nele que, mesmo mágicos sapatinhos de cristal irão se firmar, dando vida concreta ao sonho que alguém, solitário, quis dividir com todos...
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Monday, September 19, 2011

Os Indignados...

Em meu blogg anterior, eu ia falar sobre os indignados. Resolvi esperar pelo desfecho da votação na qual seria resolvido o destino politico da ladra-senadora que emporca o já desonrado Congresso e, constatar se restaria uma esperança qualquer a esse pequeno grupo de sobreviventes. Falava eu, então, sobre as combalidas forças do que deveria ser o Exército dos Indignados, hoje reduzido a guerrilheiros sem eira nem fronteira. Fui derrotado em minhas esperanças e, lá permanece a ladra-senadora, guarida que foi, na mesma alcova, por seus pares de profissão. Mais uma vez, aqui respondo a e-mail de velho, e indignado, professor:
Assisti ao vídeo de nome Comédias de Brasileiros. É de estarrecer a desfaçatez; é humilhante a certeza da impunidade; é patético o espetáculo mal ensaiado, tanta é a certeza do aplauso; é final a distância entre representantes e representados... Claro que a pergunta imediata é: O que fazer? E, se possível, quem irá fazer alguma coisa para corrigir essa montanha de escura podridão? Respondo a mim mesmo: Há que se fazer Justiça. E isto terá de ser feito por pessoa ou pessoas, interessadas em corrigir estes crimes. Então, procuro na cabeça cansada e incerta, quem teria interesse em corrigir esse delinquente Brasil? Desolado, constato que ninguém com Poder formal, seria candidato a esse cargo de proporções, literalmente, federais. O Poder vem de duas fontes cristalinas: Riqueza ou Força coercitiva. A segunda pode ser comprada pela primeira, e a primeira, tomada de assalto pela segunda. No Brasil, temos ambas alternativas sendo praticadas noite e dia. Sim, noite e dia; dia e noite. A cobertura da madrugada já não se faz mais necessária. Faz parte de um passado honrado, a prática da subtração do alheio, sem que a vitima se apercebesse ou, muito menos, sofresse violência. Mas, voltemos a busca do paladino que poderia salvar o Brasil, começando com a Riqueza que, se não tem a Força, a esta pode adquirir por módico valor. Aos ricos, não interessa mexer neste cassino financeiro chamado Brasil. Ganham de todos os lados. Ganham no mercado acionário jogando sempre com aquelas cartas marcadas, Petrobras, BB, Vale, etc... ou ganham aplicando o dinheiro no país que pratica os juros mais altos do mundo. Tomam dólares no mercado internacional a praticamente ZERO de juro, trocam esses dólares no Banco Central, de quebra valorizando artificialmente o Real, e aplicam estes reais a, no mínimo, 6% a.a., jogada que não requer nenhum gênio financeiro para ganhar dinheiro fácil e, legalmente. Assim, dos ricos não podemos esperar ajuda para corrigir os desmandos. Ao contrário, são adversários, nessa peleja. Vamos então a Força coercitiva. Fora de questão ajuda do estrangeiro, pois que é de lá que vem grande parcela dos "investidores" no mercado brasileiro. Armínio Fraga com FHC, e Meirelles com Lulla, mostra a afinação de nossa centro-esquerda e sua dupla personalidade, com a versão predadora do capitalismo. O primeiro, foi braço direito de George Soros, o financista americano que colocou o Banco da Inglaterra de joelhos, nos anos 90 e, o segundo, Meirelles, foi presidente do Banco de Boston, e em seguida, presidente de banco central na era Lulla. Aos pouco sinceros, prontos a defender o indefensável, de antemão pergunto: Houve condenações pelo Mensalão? Palloci conseguiu explicar a origem de seu patrimônio e, tomar posse? Então, por favor, sigamos adiante: Vamos apelar ao PCC? Trata-se de partido politico instável e exótico. Não tem regras definidas e, a liderança é escolhida de maneira insólita e irregular. Iremos ter ao Partido "Verde"? Tiveram sua oportunidade e, deu no que deu. Não dispõem de quadros próprios que consigam fazer o país funcionar e, logo tem apelar para, justamente, o inimigo que derrubou ; Deu Fim, Malufos, ACMs, e outros nomes dos quais, só de lembrar, causam-me nojo; dirá escrever... De quebra, enfrentam deserções para o lado inimigo, seduzidos pela prática de adquirir Força com dinheiro e, não mais pelas divisas da caserna. Golpe militar só presta como ato de vingança e, todos sabemos; a vingança é um prato quente, sempre servido frio... Apelar para a elite intelectual? Ela está aí e, o atual estado de coisas, fala por si. Uma massa de intelectualoides que não produz uma única ideia aproveitável; está completamente descolada da realidade. Consumidores de toda sorte de drogas, confusos; gastam grande tempo da vida, tentando certificar-se qual é a opção sexual que melhor lhes satisfaz. Tem soluços intelectuais e, vez em quando, vomitam uma bobagem qualquer que lhes garanta popularidade. Unem-se as massas aviltadas pela miséria material e espiritual, somente quando necessitam de assunto para produzir algo "artístico"; novelas, raps, sambas, passeatas gays, e outros itens de grande relevância para a cultura nacional. De ordinário, querem distância destas, interessando-lhes delas somente a audiência e os aplausos... Quem mais nos resta apelar para pedir ajuda? A Justiça? Essa mesma justiça que tem emprego vitalicio, dele auferindo altos salários e comissões e que, mesmo assim, acaba de revoltar-se, obrigando a Presidente a alterar o orçamento, de forma a lhes garantir maiores ganhos? Essa justiça que, regularmente produz fofocas indignas de uma suprema corte mas, sim, dignas de ambientes suburbanos e cais de porto? Ou vamos apelar as religiões? Poderíamos começar com esse malandro que, de coisas do divino nem quer saber. Assentado em confortável fortuna arrecadada a custas da desgraça de uma legião de miseráveis, distrai-se disputando com a rede platina, a primazia da atenção de milhões de idiotas que assistem novelas... Ou, iremos a esse velho mercador de almas, que ora dilapida sua secular fortuna pagando indenizações milionárias por desmandos cometidos por pedófilos que proliferam em suas quadrilhas que se escondem em templos milenares? Que tal uma agremiação que destrói o que de mais precioso a divindade lhes deu, a vida, para destruir a de outros? Ou, prefere a agremiação de casal de bispos que utiliza bíblias e crianças, das quais são avós, para contrabandear fundos roubados da própria igreja a qual representam e, acabam presos em pais estrangeiro onde a lei impera com seriedade? Pouparei notório ladrão de gravatas, em consideração a seu passado honrado, servindo a causas civis com grande desprendimento... Se nada disso lhe seduz, existem as quadrangulares, redondas e, mesmo bolas de neve... lance a sua sorte, nesta opção que é, sim, a besta apocalíptica: a Religião.
Minha resposta final: Não temos a quem apelar. Procure viver o melhor que pode a sua vida. Recomendo-lhe Integridade, pois que de uma Solução, com todo o peso de sua justiça; dessa você não escapará: A Morte! Somente ela nos livrará dessa legião de demônios a qual estamos longamente condenados. E, mesmo ela com todo seu poder, levará um tempo incontável para por melhor jeito a essa esbórnia monumental. É dito popular que, a morte perdoa todas as dívidas. Ledo engano... A morte consolida todas as dívidas em uma gigantesca hipoteca a ser paga pela sua Consciência. A única garantia que a morte lhe da, é o esquecimento; as vezes lento e doloroso....

Mantenha-se vivo...!!!

Eu ia falar de uma espécie em extinção - mais uma - a dos indignados mas, vejo algumas fotos no jornal on line, que encorajam-me a adiar por um dia mais, meu humilde, não requerido, distante grito a juntar-se a tantos outros a denunciar que, não há mais reserva moral, não há mais ânimo; declararam-se sitiadas e derrotadas as últimas forças do que, um dia, foi o Exército dos Indignados. Prefiro falar de um grito de resistência. Um grito de um velho roqueiro a berrar em inglês: Eu continuo vivo! Não me sepultem! Trata-se do bom e resistente Peter Frampton. É bem possível que, alguns amigos e colegas não se lembrem de Frampton (...eu ia falar companheiro mas, achei que poderia ser ofensivo e, preferi "colegas"...). Ele próprio, em seus 60 e poucos anos, ciente do destino fatal que é o esquecimento, dirigiu-se a um contemporâneo que cantarolava uma de suas composições durante o show, agradecendo o prestígio emprestado a sua canção. Humilde, perguntou ao sujeito de cabelos grisalhos: "Do you know me? I'm Mr. Frampton... Acredito que seus pais possam me conhecer..." A simpatia do gesto, transmitida pelo corpo surrado pelas noites, pelas drogas (garantiu que, agora, somente as de prescrição médica...) e, pelo natural decorrer dos anos, mandou uma mensagem de fé, de resistência, de simplicidade, de bondade. Frampton já não ostenta nenhum fio original da portentosa cabeleira, que balançou corações de todos os sexos (eu ia, preconceituosamente, dizer "femininos"). Tem agora uma pronunciada e reluzente cabeça pelada, um sorriso que, discretamente, denuncia o tradicional humor sarcástico dos britânicos, estressado por dentes que, quando sorri, lembram o riso de vagabundo personagem de desenho animado... Enfim, uma figura. Imagino que conversar com Frampton, mesmo que bebendo água, seja um dos melhores papos disponíveis nesses tempos de cabeças estéreis e aborrecidas. Completa a estampa, os braços finos, quase delicados, denunciando que, a maior parte do tempo da existência de quem os possui, foi gasta a segurar uma guitarra, as mãos a colher solos e acordes geniais. A quem ouve, chega a irritar, entristecer, quando Peter para de tocar... e, ele sabe disso, diverte-se com isso, saboreia o prazer que oferece a sua fiel platéia de "garotos", a maioria destes há mais de meio século pisando este planeta maluco...
Peter Frampton avisa no início do concerto que, irá tocar as músicas de seu último álbum, gravado há longínquas décadas atrás; "Frampton Comes Alive". Jocosamente, ele muda o nome do show para "Me comes alive"...Tocou, também, músicas de antigos roqueiros, Clapton, Beatles... Um prêmio ouvir Whyle my Guitar Gently Weeps.... Acompanha-o, nao menos antigos companheiros de estrada; todos excelentes músicos, nitidamente apaixonados pela profissão que abraçaram ou, literalmente, pelo negocio que "tocam"...
O show foi ao ar livre, ao pé de uma das muitas montanhas de Utah, em noite de verão. Pode ser que o desejo de um mundo melhor, esteja conduzindo-me a pieguice de declarar que, Frampton foi sincero ao olhar para a pequena multidão que se acomodou no gramado e, dizer que ali estavam sua família e seus amigos... Não sei... por um momento foi bom acreditar que sim e que "all of us, we came, one more time, alive".... Peter, please, keep yourself alive!
http://www.youtube.com/user/mrboskinho

A Teoria da Relatividade e o Brasil

Estive recentemente visitando o Brasil. Estava, um pouco, curioso para ver de perto, sentir, absorver o quanto possível, o momento positivo que vive o país. Tal como eu suspeitava, o tal momento bom resume-se a números e estatísticas. A vida real, ali na dureza do asfalto congestionado pelo trânsito infernal das grandes cidades, no ar impregnado de poluições diversas, nos preços altíssimos dos bens - e também dos males - de consumo, nas calçadas cheias de cocô de cachorro e obstáculos para cadeirantes (o termo "cadeirante" foi a única melhora na vida dos deficientes físicos) e, a iminência de um ato violento a desabar sobre sua vida a qualquer momento, tudo isto somado, dá a vida diária uma qualidade muito ruim. Os números podem ser vistosos; ótimos para financistas e investidores. De quebra, ocupa muitas pessoas mas, não observei avanços palpáveis, tais como melhores moradias para a massa, preços acessíveis, melhores ruas e estradas, cidades menos agressivas e - chega a ser patético mencionar - mais acolhedoras. Não falarei de escolas; não tenho contato direto e, tudo que sei, vejo nos jornais; a dura realidade de estabelecimentos depredados e ruins, é o diário na vida de professores e alunos, somados a salários miseráveis; soma cujo resultado é sempre negativo. Notei sim, um nível de stress maior em boa parte das pessoas com quem mantive contato.
Sempre fui péssimo em Física, entre outras matérias mas, o pouco conhecimento que amealhei, permitiu-me lembrar do velho Einstein a ensinar que toda noção de movimento é relativa entre o que se move e o que observa o movimento e que, o tempo é uma noção que depende da velocidade. O Brasil é complexo; meu conhecimento da Teoria da Relatividade é pequeno e simples, de modos que paro por aqui. Entretanto, foi fácil perceber que boa parte da melhora brasileira, é relativa. Relativa a um mundo que vai mal; que parou, enquanto o Brasil se movimenta. Até aí, nada demais. É do jogo tirar vantagens econômicas em momentos favoráveis a um e contrários a outros. O que está errado, é pensarmos que conseguimos evoluir e ultrapassar economias e sociedades que se desenvolveram a séculos e que, apesar de estarem muito mal, continuam a nossa frente. Esse ufanismo é tolo, inconsequente e, serve somente para nos manter no atraso. Exemplos concretos: Atualmente, você encontra o automóvel que desejar para comprar, seja la qual for o modelo e a marca. Temos carros de todas as procedências mas, nenhum brasileiro. E todos custam uma fortuna. O Civic, para ficar em uma marca e modelo populares, custa a indescência de R$ 62.000,00 ou aproximadamente 38,000.00 dólares. O preço real deste carro, exagerando, é 20,000.00 dólares. Ou seja, você compra dois e, leva um, na maioria das vezes para pagar a prazo. Nesse caso, os juros mais altos do mundo praticados pelo país, faz com que você acabe pagando por 3 Hondas Civics, enquanto que um só está em sua garagem.
Somos auto-suficientes em petróleo e álcool mas, pagamos preços exorbitantes por um combustível ruim e mal-cheiroso, para rodar em estradas assassinas, como fui arriscado a fazer por vários dias em viagem. O aeroporto da maior cidade, do maior estado do país é simplesmente ridículo... e caro.
Ao brasileiro comum, é difícil compreender a Teoria da Relatividade. A mim também mas, seria minimamente imprescindível entender que, o Brasil sequer subiu para o patamar onde certos países caíram. Esse Exercito de Brancaleone precisaria ter melhor noção do que se passa em outros lugares do Planeta em que vive. Quando fala-se de crise na Espanha, essa crise esta longe de afetar gravemente a qualidade de vida dos espanhois. Com certeza, afetara o PIB, PNB, as importações, o preço do óleo de oliva, a frequência do Benidorm mas, pára por ai. A qualidade de vida nos países desenvolvidos, apesar da crise, cai até um certo patamar; patamar que está muito acima dos países subdesenvolvidos ou em grande estágio de desenvolvimento.
Para quem se lembra, uma vez em governo de direita, ditadura militar duríssima, o Brasil cresceu e, nos ufanamos. Pra Frente Brasil! Ame-o ou deixe-o! Era o Brasil cantado por Don & Ravel, este recentemente falecido. Delfin fez o bolo crescer mas, não o repartiu. Era o Brasil "maior que o buraco". Era o Brasil que Médici, duro e insensível ditador, diagnosticava a situação como sendo "...o Brasil vai bem; o Povo vai mal...". Ironicamente, hoje o bolo esta ai crescido e crescendo nas mãos da esquerda que combateu aquela mesma ditadura de direita. De novo, não vejo os problemas estruturais sendo combatidos: Educação; nota zero. Fizemos bastante? Pode ser mas, o bastante é muito insuficiente; nem vou desculpar-me pela redundância em um país cujo Ministério da Educação mandou a concordância e a elegância da língua para o lixo. Justiça: Qual Justiça? A que permite que um deputado federal condenado e caçado pela Interpol represente o maior estado brasileiro? A que permite que um ex-presidente caçado por formação de quadrilha e bando volte ao senado? São tantos os casos de desmando judicial que, não perderei tempo e não esgarçarei a paciência de quem me lê desfiando o rosário de iniquidades que medram na sociedade brasileira... Violência: Jamais compreenderei a razão pela qual os órgãos internacionais não classificam a situação brasileira como "calamitosa" a luz do número de pessoas criminosamente mortas. São números de guerra e, garanto; estão no topo de qualquer lista de número de mortos em guerras nestas últimas décadas. Enquanto tudo isto acontece, o Brasil brinca de modernidade discutindo com fervor causas que, generosamente falando, não tem a menor prioridade: casamento gay, marcha da maconha, cartilha sexual, BBBs... Adora tudo que eh "fashion", não importa o quanto contraditório seja: Detesta o sistema politico americano mas adora Facebook, Hollywood, Internet, Ipod, Pads e outras quinquilharias que estufam os cofres americanos de dinheiro. Admira o conservador Iran mas, tem um motel em cada esquina e, o sensualismo é utilizado até mesmo para promover a abstinência sexual; acha Cuba e Fidel o máximo mas, vai mesmo é para Miami, adora futebol mas, seus craques vão todos para a Europa e, segundo Romário, que não eh nenhum apóstolo, a Copa só sai no Brasil se Jesus voltar... Tenho certeza de que não voltará...
Enfim, De Gaulle continua e está cada vez mais atual em sua afirmação: O Brasil não é um pais sério. Resta agarrar-se aquela frase de rara lucidez do Hino Nacional: Gigante pela própria Natureza... porque, com raras exceções, se depender dos brasileiros, será sempre um pequeno gigante a pisotear seus filhos... E não culpem somente os políticos, pois que estes saem de dentro das famílias brasileiras e, lá estão por voto direto e distraído de brasileiros... Escola não é passatempo... Escola é passaporte para o Futuro!

U-2 ... U-tah

Assisti, ontem a noite, a apresentação do U-2, aqui em Salt Lake City. Foi no estádio da Universidade de Utah. Alguém poderá estar a se perguntar "...que diabos faz o U-2 em SLC?". Não sei e, não tive a oportunidade perguntar a nenhum deles a razão pela qual dezenas de imensos caminhões percorreram milhas e milhas de estrada, para desembarcar as toneladas de estruturas de aço que compõem o cenário dessa turnê a que chamam de 360 graus. Além de informar que aqui, também, circula o dólar, direi somente que a Universidade de Utah teve dois ganhadores de Premio Nobel, sendo o mais recente em 2007 e, goza de grande respeito na área de Medicina. Foi fundada em 1850, 46 anos antes de Utah deixar de ser Território e, tornar-se um estado da federação americana. Não sei se Bono sabe dessas coisas e, por isso mesmo escolheu, pela 3a. vez, Salt Lake City para soltar sua inconfundível voz que, tanto canta, quanto protesta seu inconformismo com algumas das muitas coisas erradas que o U-2 anda a ver mundo afora e adentro.

O U-2 com seu idealista e carismático líder, forma uma curiosa entidade, talvez sem precedentes na historia de bandas musicais. Desde "Sunday Bloody Sunday", passando por "Daddy's Gonna Pay For Your Crashed Car", até "Beautiful Day", o U-2 criou e dominou largo espaço na política, na música e, nos costumes. Critica ditaduras mas, não se limita a escrever letras ácidas desancando regimes e líderes políticos dos quais não gosta mas, vai ao encontro destes e poem a boca - não diria no trombone - mas, no microfone. Bono já se queixou de que ganha dinheiro demais e, até com uma certa culpa, em seus shows vive a agradecer os fans presentes e ausentes, por terem proporcionado ao grupo a confortável vida que levam mas, não deixa de criticar os filhinhos-de-papai e, aos que reclamam da vida, sem razão, sempre que pode. Admiravelmente para estes tempos, é um conservador, assim como, em maior ou menor grau, os outros membros do grupo. Não usa drogas, não aparece fumando e, vive com a mesma mulher e a mesma família desde sempre. Religioso, boa parte das musicas que compôs, teve influência nas origens religiosas; pai católico e mãe anglicana. Até hoje, não tenho notícias de que Bono tenha investido, nem tempo e nem dinheiro, na causa "gay". Investe sim; furiosamente, contra a fome na Africa, a ausência de liberdade de toda sorte onde quer que esta falte, e na propagação dos nomes das pessoas as quais admira, tais como Mandela e Aung San Suu Kiy. E, é justamente este conservadorismo humanista "fora-de-moda", que proporciona a banda a credibilidade e o sucesso dos quais goza. É difícil em meio a imensa corrente liberal que hoje atropela a humanidade, resistir ao apelo de fazer sucesso fácil e imediato, defendendo causas "fashion" tais como os direitos civis de GLS, as virtudes da maconha, e o direito de ser feliz a qualquer custo. O U-2 navega contra a corrente e, recebe os aplausos dos passageiros da Nau da Insensatez que navega em direcao contrária, cujos passageiros tem vontade mas, não tem caráter, gana, disposição, para fazer a longa volta nesse oceano de enganos e retornar ao curso correto.

Não creio que o U-2 pretenda liderar a humanidade para qualquer direção que seja. Tudo indica que Bono é, simplesmente, um cristão convicto, um pouco assustado com a fortuna rápida e inesperada que amealhou. Procura fazer a parte que lhe toca como ser humano, participante que é deste imenso show que é a vida, onde poucos fazem e uma imensa maioria limita-se a aplaudir ou criticar. E, faz muito bem. Sócio-politica a parte, os caras fazem um som sideral e contagiante. Impossível, ainda que por um momento, não acreditar que a vida pode ser muito melhor, também, nas fronteiras além-mar das Américas e Zooropa...